Sob os pés, meu corpo inteiro, de Marcia Tiburi: uma reflexão sobre distopias passadas, presentes e futuras

Resumen

Sob os pés, meu corpo inteiro, de Marcia Tiburi, é um romance que se passa em uma São Paulo de um futuro indeterminado. Nesse futuro distópico, o presente autoral se torna passado, se torna história, possibilitando sua análise através desse deslocamento temporal. No entanto, ao mesmo tempo em que esse futuro se afasta do presente trazendo a chuva ácida que, por enquanto, ainda não é realidade da terra da garoa, a familiaridade das ruas pintadas de cinza aproxima esse futuro imaginado do nosso presente e do nosso passado. Um jogo de aproximação e distanciamento, de familiaridade e estranhamento, não apenas permeia esta narrativa, mas constitui sua estrutura e fornece o enquadramento para o seu conteúdo político. Assim, este trabalho tem como objetivo compreender a forma como os binômios futuro-presente e familiaridade-estranhamento são articulados no decorrer do romance e os efeitos dessa articulação. Para isso, discutiremos os paralelos entre o presente da narrativa e o presente autoral, a maneira como as cicatrizes da ditadura civil-militar brasileira se mostram em ambos os momentos, contextualizaremos o romance de Tiburi em uma tradição de literatura acerca da ditadura, e nos utilizaremos da chave de leitura da distopia para acessar a reflexão que esta obra apresenta sobre o passado-presente-futuro brasileiro, nossa experiência histórica e nosso presente político.